Leonel Santos - ARGÉLIA

A DITADURA DEMOCRÁTICA

Naquela terra doce e bestial

Reinava a democracia

O povo trabalhava, é natural

E o resto, passeava e comia



Rezava-se ao Alá que é um senhor

Que ajuda o que passeava a passear

E também com carinho e com amor

Ajuda o que trabalha a não parar



Este Alá é o mesmo que o "Há cá"

Que ajuda o que não pode a não poder

Mas é da democracia, para já

Aquilo que hoje tenho para dizer



Esse maná, que aqui no Ocidente

Abunda e tem caído em doses tais

Que qualquer democrata não desmente

Que só no outro mundo existe mais



Mas seja como for, a tal gentinha

Lá ia vivendo e rindo o dia-a-dia

Tinha corrupção sempre fresquinha

Que é o motor de tal democracia



E se às vezes uma Câmara do Alá

Lhe arrasava a barraca onde vivia

Como faz a Câmara do "Há cá"

A malta protestava mas comia



Embora não chegasse o ordenado

E a fome fosse dura e atrevida

Ninguém vivia ali desanimado

Tinha a democracia garantida



Em nenhuma selva de certeza

A vida era mais doce e encantada

O que tinha mais poder e mais esperteza

É que era sempre o chefe da manada



Mas como o democrata é cem por cento

Avesso em questões de ditadura

Convocou eleições p`ro Parlamento

Não se fosse estragar tanta fartura



Porém, o povo ingrato e atrasado

Quando chegou ao dia de eleições

Não quis votar nos bons, este "Malvado"

E acabou por ir votar pelos ladrões



Só que a democracia sendo boa

Nunca seria parva com certeza

Nem reinava portanto ali à toa

E no jogo que fez, pôs-se à defesa



Então o democrata de serviço

Que por acaso era um militar

Vendo contra ele o seu feitiço

Mandou chamar a tropa e pôs-se à´dar



E foi assim que a Argélia democrata

Se conseguiu livrar dos tais fanáticos

Hoje ali se prende, rouba e mata

Mas apenas em moldes democráticos



O pai e a mãe do FUNDAMENTALISMO

É o democrata astuto e corrompido

É ele que lança os povos no abismo

Depois dos Ter roubado e Ter traído



Leonel Santos(*) (Lx. 27-07-92)