O BONZO
Poeta genial, meio deus meio gente
Cantor de Salazar Sidónio Pais
Amigo de beber, bebeu demais
E a cirrose por fim fincou-lhe o dente
Desgostoso de o mundo andar pr’a frente
Voltou-se contra as forças naturais
Mas em batalhas vãs e desiguais
O mundo esborrachou-o totalmente
Clamou que o poeta é fingidor
Fingiu que a treva é luz, que o espinho é flor
Mas beber a fingir não foi capaz
Jaz agora à porta dum "café"
Acocorado como um chimpanzé
E o mundo não voltou nunca p’ra traz.
Lx. 30/O6/92
O BONZO I
O MITO É O TUDO QUE É NADA
A luz se extinga, o Sol desapareça
Não rode mais a terra, não haja Humanidade
Recuemos no tempo, matemos a verdade
Ponha-se o Cu no sitio da cabeça
O mito apenas, que é tudo, prevaleça
Suma-se a sombra da vã realidade
Nem fique o vento, nem o mar, nem a cidade
Tudo morra, se apague, se esqueça
A criança, a flor, o amor, a paixão
Tudo é mentira, é falso, é vão
Tudo é nada, oco, vazio e mudo
A Arte, a Ciência, a História, a Razão
Os Escravos, a Guerra, o Mundo, nada são
Tudo é nada. O nada é que é tudo.
Lisboa 06/07/92
BONZO II
O POETA É FINGIDOR
Se sustenta que o riso é que é a dor
Se esconde o bem do mundo e mostra o mal
Se distorce na vida o que é real
O poeta não sonha, é fingidor
Mas se carrega nas tintas e na cor
Se imagina e reforça o ideal
Se ultrapassa a visão do que é banal
E não mente nem finge, é sonhador
E o sonho do poeta, sonho embora
Não é o de quem dorme a certa hora
Mas o do quem escuta o Mundo atento
Quando o poeta finge a dor que sente
Mostra-nos o Mundo inversamente
E o sonho não é sonho, é fingimento
Leonel Santos
01-07-92
Poeta genial, meio deus meio gente
Cantor de Salazar Sidónio Pais
Amigo de beber, bebeu demais
E a cirrose por fim fincou-lhe o dente
Desgostoso de o mundo andar pr’a frente
Voltou-se contra as forças naturais
Mas em batalhas vãs e desiguais
O mundo esborrachou-o totalmente
Clamou que o poeta é fingidor
Fingiu que a treva é luz, que o espinho é flor
Mas beber a fingir não foi capaz
Jaz agora à porta dum "café"
Acocorado como um chimpanzé
E o mundo não voltou nunca p’ra traz.
Lx. 30/O6/92
O BONZO I
O MITO É O TUDO QUE É NADA
A luz se extinga, o Sol desapareça
Não rode mais a terra, não haja Humanidade
Recuemos no tempo, matemos a verdade
Ponha-se o Cu no sitio da cabeça
O mito apenas, que é tudo, prevaleça
Suma-se a sombra da vã realidade
Nem fique o vento, nem o mar, nem a cidade
Tudo morra, se apague, se esqueça
A criança, a flor, o amor, a paixão
Tudo é mentira, é falso, é vão
Tudo é nada, oco, vazio e mudo
A Arte, a Ciência, a História, a Razão
Os Escravos, a Guerra, o Mundo, nada são
Tudo é nada. O nada é que é tudo.
Lisboa 06/07/92
BONZO II
O POETA É FINGIDOR
Se sustenta que o riso é que é a dor
Se esconde o bem do mundo e mostra o mal
Se distorce na vida o que é real
O poeta não sonha, é fingidor
Mas se carrega nas tintas e na cor
Se imagina e reforça o ideal
Se ultrapassa a visão do que é banal
E não mente nem finge, é sonhador
E o sonho do poeta, sonho embora
Não é o de quem dorme a certa hora
Mas o do quem escuta o Mundo atento
Quando o poeta finge a dor que sente
Mostra-nos o Mundo inversamente
E o sonho não é sonho, é fingimento
Leonel Santos
01-07-92