1
Salve, guerra gloriosa e civilizada
Farol do saber e da razão
Valeu a pena a nossa caminhada
Da barbárie antiga à civilização
2
Da moca e da funda à bomba-nuclear
Que evolução nobre, serena e sadia
Vemos-te agora, enfim, desabrochar
Ó flor sublime da democracia
3
Salve, guerra santa e libertadora
Do nosso património e das nossas vidas
Aqui onde o Bem e a Justiça mora
Só faltam super-bombas e "corta-margaridas"
4
Ó doce e gloriosa bomba-inteligente
Quem não tem orgulho do teu efeito nobre
Deusa do Mercado omnipotente
Transformando em oiro o que é vil e pobre
5
Ó sibilante míssil, ó pássaro voador
Imponente rei de solitários céus
Construiu-te a raça superior
Que segundo os padres foi feita por "Deus"
6
Ó guerra sábia, moderna e diferente
Das velhas guerras de heróis pensantes
Barregã que pare mas que fica sempre
Pronta a parir como estava dantes
7
Ó guerra-nova, guerra-Mercado
Guerra-negócio, fuga ilusória
No novo mundo civilizado
És tu a besta que rege a história
8
Biliões de livros, praga infinita
De doutores e génios todos imortais
Rios de cultura, sábios da escrita
Cuja cabeça já não leva mais
9
Mediram eles o fundo dos mares
Os picos nevosos das altas montanhas
Fizeram as naves que cortam os ares
Contaram os genes das nossas entranhas
10
Ó maravilha! Mas quem poderia
Contar os heróis e os mestres da Terra
Sem tais luminárias quem é que sabia
Os altos valores que existem na guerra
11
Valeu a pena o esforço humano
Todo o saber que o passado encerra
Para consolidar teu valor soberano
E humanitário, gloriosa guerra
12
Foi-se a velha flecha e nobre espada
O tropel antigo da cavalaria
Ficou-nos a guerra civilizada
E as bombas sábias da democracia
13
Avança ó guerra gloriosa
Eu te saúdo da minha pequenez...
Talvez um dia na tua senda honrosa
Consigas liquidar todos duma vez
14
Mas a paz, perguntais? A paz é mito
É sonho inocente, é utopia
A paz é estratégia e doce grito
Dum mundo onde não cabe essa valia
15
A paz, diz o Mercado omnipotente
É apenas oportuna e necessária
Para esconder estrategicamente
O nome da guerra na conta bancária
16
A paz nunca teve valor de Mercado
Não vende armamento, não compra também
Não tem generais, não paga ordenado
Dos lucros da paz não vive ninguém
Lisboa, Março de 2003
Leonel Santos
A OVELHA NEGRA
Estava feliz o Mundo e sossegado
A um passo, pouco mais, da perfeição
Quando fora de toda a previsão
Surge um certo Hussein de mau costado
Já não havia droga no Mercado
Nem havia também corrupção
A fome já passara a ficção
E o crime tinha sido exterminado
A Terra era agora tão serena
Como um hino de paz e de harmonia
O Bem, a Justiça, a Lei terrena
Nunca tinham atingido esta fasquia
Quando o tal Hussein, foi uma pena
Escaqueirou com tudo o que existia
Lisboa, Março 2003
Leonel Santos