Leonel Santos - DIÁRIO DA SELVA II (O PADRE)




Quem é essa abantesma que apressada

Caminha entre os andantes, rua fora

De fraldas ao vento, onde mora

Uma imagem no tempo ultrapassada

Com saia comprida e mal cuidada

De um negro profundo, cor de amora

E que promete o Céu a toda a hora

Mas apenas tira e não dá nada



A sua negrura decadente

E o seu andar desconcertado

O seu olhar desconfiado

Em nada condiz com o ambiente

Olha para o chão, não fita a gente

Que passa de um e outro lado

Como um bicho qualquer semi-espantado

Para quem este sitio é bem diferente



Tem um ar sombrio, comprometido

De quem algo deve à sociedade

E carrega aos ombros na verdade

Um passado muito enegrecido

De tanto ter pilhado e ter zurzido

A miseranda e pobre Humanidade

Não respira bem pela cidade

E caminha por isso constrangido



A sua missão e prosseguir

A missão dos seus antepassados

Mas os tempos agora estão mudados

E o tempo que foi não volta a vir

Já ninguém agora vai cair

No inferno por causa dos pecados

E os bens do Céu estão esgotados

Por o deus Valor os destruir



Com a bancarrota da Igreja

O padre se agarra a toda a presa

Às crianças, à fome ou a pobreza

E a todos os lucros que fareja

Buscando as benesses que deseja

Que pague o Estado essa despesa

Porque ninguém casa, ninguém reza

Nem deposita notas na bandeja



Solidariedades, lares, benfeitorias

Para criancinhas, velhos ou drogados

Os padres nem dormem descansados

Vendo os pobres assim de mãos vazias

E mandam rezar avé-marias

Para que eles sejam ajudados

E dêm aos santos, que coitados

Nem comem já todos os dias



Um camelo me diga, ou um jumento

Porque é que um padre vai benzer

A pasta de um estudante, que à'prender

Andou ilustrando o pensamento

Como pode haver descaramento

Para coisa tal acontecer

E como pode alguém obedecer

A tanta estupidez e fingimento



Pode o padre viver eternamente

Que o seu crime nuca se mais apagará

Foi ele quem trouxe para cá

A santíssima lei de queimar gente

E como pode agora no presente

Criticar alguém do mal que há

Quando no Mundo onde ele está

Ele mandou queimar tanto inocente



O símbolo negro da sua missão

É exibir a morte pregada numa cruz

Sem uma criança, sem um raio de luz

Como o fez a Santa Inquisição

Só depois da morte os deuses dão

Comer ao faminto e roupa aos nus

Porque a Vida ao nada se reduz

E o Céu começa no caixão



Nunca se deve usar preservativo

Nem usar anticoncepcionais

Quanto mais miséria tanto mais

O oficio do padre é lucrativo

O infantário, a creche, outro motivo

Que reuna ajudas estatais

Que o padre dá os bens morais

Para o bebé poder manter-se vivo



Quem é essa abantesma que na América

Austrália, Brasil e mais locais

Prègando andou valores morais

Como por aqui na terra Ibérica

E com essa treta cadavérica

Violou crianças virginais

Como outra besta fez jamais

Na era pré ou pós homérica.



Lisboa, Outubro de 2008

Leonel Santos