Quem é essa abantesma que apressada
Caminha entre os andantes, rua fora
De fraldas ao vento, onde mora
Uma imagem no tempo ultrapassada
Com saia comprida e mal cuidada
De um negro profundo, cor de amora
E que promete o Céu a toda a hora
Mas apenas tira e não dá nada
A sua negrura decadente
E o seu andar desconcertado
O seu olhar desconfiado
Em nada condiz com o ambiente
Olha para o chão, não fita a gente
Que passa de um e outro lado
Como um bicho qualquer semi-espantado
Para quem este sitio é bem diferente
Tem um ar sombrio, comprometido
De quem algo deve à sociedade
E carrega aos ombros na verdade
Um passado muito enegrecido
De tanto ter pilhado e ter zurzido
A miseranda e pobre Humanidade
Não respira bem pela cidade
E caminha por isso constrangido
A sua missão e prosseguir
A missão dos seus antepassados
Mas os tempos agora estão mudados
E o tempo que foi não volta a vir
Já ninguém agora vai cair
No inferno por causa dos pecados
E os bens do Céu estão esgotados
Por o deus Valor os destruir
Com a bancarrota da Igreja
O padre se agarra a toda a presa
Às crianças, à fome ou a pobreza
E a todos os lucros que fareja
Buscando as benesses que deseja
Que pague o Estado essa despesa
Porque ninguém casa, ninguém reza
Nem deposita notas na bandeja
Solidariedades, lares, benfeitorias
Para criancinhas, velhos ou drogados
Os padres nem dormem descansados
Vendo os pobres assim de mãos vazias
E mandam rezar avé-marias
Para que eles sejam ajudados
E dêm aos santos, que coitados
Nem comem já todos os dias
Um camelo me diga, ou um jumento
Porque é que um padre vai benzer
A pasta de um estudante, que à'prender
Andou ilustrando o pensamento
Como pode haver descaramento
Para coisa tal acontecer
E como pode alguém obedecer
A tanta estupidez e fingimento
Pode o padre viver eternamente
Que o seu crime nuca se mais apagará
Foi ele quem trouxe para cá
A santíssima lei de queimar gente
E como pode agora no presente
Criticar alguém do mal que há
Quando no Mundo onde ele está
Ele mandou queimar tanto inocente
O símbolo negro da sua missão
É exibir a morte pregada numa cruz
Sem uma criança, sem um raio de luz
Como o fez a Santa Inquisição
Só depois da morte os deuses dão
Comer ao faminto e roupa aos nus
Porque a Vida ao nada se reduz
E o Céu começa no caixão
Nunca se deve usar preservativo
Nem usar anticoncepcionais
Quanto mais miséria tanto mais
O oficio do padre é lucrativo
O infantário, a creche, outro motivo
Que reuna ajudas estatais
Que o padre dá os bens morais
Para o bebé poder manter-se vivo
Quem é essa abantesma que na América
Austrália, Brasil e mais locais
Prègando andou valores morais
Como por aqui na terra Ibérica
E com essa treta cadavérica
Violou crianças virginais
Como outra besta fez jamais
Na era pré ou pós homérica.
Lisboa, Outubro de 2008
Leonel Santos