Leonel Santos - Do Maniqueísmo (II)

Do Maniqueísmo (II)

Um dia Mani fez dividir
O nosso Mundo em Bem e Mal
E com estes dois opostos a gerir
O Cosmos e a Terra em especial
O Homem não mais pôde existir
Fora deste combate universal

Aqui tem a Guerra contra a Paz
Ali tem o Deus contra o Diabo
Mas a Guerra é a Paz que alguém desfaz
E nos põe atrás do bicho brabo
E as lutas de Deus com Satanás
Nas leis de Mani nunca se acabo

Ouse a Humanidade arrisque e tente
Ver-se destas leis emancipada
Porque há um abismo à nossa frente
Se esta cega Lei não for mudada
Pois o Mal e o Bem somos a gente
É a nossa integridade apunhalada

Contra a Esquerda, eis a Direita
Contra o Explorador o Explorado
Não há vida, há luta, a vida é feita
Deste dualismo encarniçado
Que divide o Homem e não aceita
Que tenhamos um mundo humanizado

Eis o Bom e o Mau estupidamente
Acusando-se em vão do mal que temos
Mas nem maus nem bons, nós somos gente
Que em disputas inúteis nos perdemos
Porque as leis de Mani, miticamente
Nos distorcem o mundo em que vivemos

E assim cada um se vai batendo
Quando mais devia estar unido
E cuidando que ganha vai perdendo
Como sempre tem acontecido
O ódio gera ódio, e ódio havendo
Deixa a razão de estar onde é divido

Ser maniqueísta é ser extremo
É recusar aos mais o pensamento
É fazer reviver Rómulo e Remo
Abel e Caim ao mesmo tempo
É ter um Deus em luta contra o Demo
Nos absconsos confins do Firmamento

Aquele que se crê dono e senhor
Do Mal e do Bem universal
Sempre por cá fez muito pior
Que quantos já por cá fizeram mal
Porque este dualismo opositor
Nos lança num mundo irracional

Aqui não há ladrão, mas há roubado
Não há bons nem maus, existe gente
E um velho Sistema condenado
Que nunca foi humano infelizmente
E hoje mais que nunca no passado
Nos obriga a pensar e ver diferente

Quem poderá olhar como inumano
O rico por que é rico e abastado
Se ser pobre ou rico é desumano
Faça-se um Sistema humanizado
Mas atirar humano contra humano
É salvar um Sistema condenado

Não podem os partidos p’ra salvar
Um Sistema que sempre os bafejou
Pedir ao povo agora p’ra gritar
Contra B ou C que o espoliou
Se há selva, são horas se a mudar
Já que dantes o Homem a não mudou

Mas que nunca os partidos mais guerreiros
Nesta selva obscura e traiçoeira
Voltem a arrastar como carneiros
Pessoas inocentes p’ra fogueira
Se justos queremos ser e justiceiros
Teremos de içar nova bandeira

Leonel Santos
Lisboa, Junho 2010