Leonel Santos - A Política de Decadência e a Decadência dos Políticos

A Politica de Decadência e a Decadência dos Políticos


Que gritaria é esta e desatino

Reina nesta sala e nesta gente

Onde, dizem, se busca o bem somente

Mas onde bem algum não descortino

E mais julgo ouvir um som caprino

Do que voz humana propriamente


O que metade afirma, outra desmente

Todos são heróis, quando não santos

Mas o barulho chega aos quatro cantos

Num debate obscuro e permanente

E ninguém soube nunca o que esta gente

Aqui está fazendo há anos tantos


Jura cada um que tem na mão

Soluções nacionais e actuais

Mas nenhum teve nem tem mais

Nem razões actuais nem solução

Cada dia que passa passa em vão

Com discursos menos racionais


Há sorrisos de troça e ironia

Se o tribuno do lado é rebatido

Por outro charlatão mais entendido

Na mesma vasta e vã charlataria

Vê-se um ar de comédia onde devia

Ver-se um ar de respeito enaltecido


Esta gesta de sábios outonais

Para quem os ouve e não conhece

Medicamentos têm de toda a espécie

Para todos os males nacionais

Talvez morra o País com cura a mais

Em vez de morrer do que padece


Todos oferecem fartura e têm p’ra dar

Trabalho em abundância noite e dia

Enquanto o desemprego se apropria

De tudo o que estava a funcionar

Vamos longe assim por este andar

Para onde é que ninguém nos anuncia


Todos são sinceros e patriotas

Primeiro está o País, eles no fim

Fica-lhe muito bem falar assim

Contra corrupção, Valor ou notas

Quem adore antigas anedotas

Veja na TV este festim


Eles têm nas palavras no condão

Dos xamãs das selvas tropicais

Com cura p’ra todos os mortais

E o poder de fazer pedras em pão

Nunca os sábios mais sábios saberão

Medir o seu saber ou saber mais


Com o trabalho morto e sem Valor

Que ponha o Sistema em movimento

Todos que têm ali seu alto assento

Têm a chave do mundo superior

E qualquer fedelho é um doutor

Que oferece Céu e Terra ao memo tempo


Como numa rábula teatral

Onde a comédia cega encobre o drama

Qualquer actor dos que ali mama

Numa prosa pouco natural

Exala um cheiro a mofo social

E sente-se a barbárie que já nos chama


Leonel Santos

Lisboa, Abril de 2010