O último osso
No palácio de São Bento
Anda tudo em alvoroço
Por todos ao mesmo tempo
Querer o último osso
Ladrou um lá da bancada
Darei emprego a milhares
Não vale a pena ladrares
Tu nunca fizestes nada
Gritou outro na cambada
Já um tanto sonolento
Um dormia a cem por cento
Recostado com ripanço
Trabalhou-se sem descanso
Naquele dia em São Bento
Ladrou um que estava á frente
Vou aumentar as pensões
Eu vou prender os ladrões
Disse um mais prepotente
Quem manda aqui é a gente
Resmungou outro mais moço
E apertou o pescoço
Daquele que o criticou
E a ladrada não parou
Anda tudo em alvoroço
Todos tinham solução
Para o problema que havia
O que há pouco dormia
Acordou na ocasião
Tinha um decreto na mão
E disse nesse momento
Que por lei do parlamento
O osso lhe pertencia
Levou dentada bravia
De todos ao mesmo tempo
De tal forma era a ladrada
Que já ninguém se entendia
Enquanto a Crise gemia
De levar tanta dentada
A sessão foi adiada
Para depois do almoço
Parece que ainda ouço
Os seus gritos de rapina
Por toda a raça canina
Querer o último osso
Abul-Ala al Maari
Lisboa, Abril 2009