DE MIDAS AO TRABALHO E AO DINHEIRO
Em certa região da Ásia antiga
Soberbo soberano governou
Midas era dito e a barriga
Menor tinha que os olhos e o provou
Pois tentou converter a História o diga
Em ouro tudo aquilo em que tocou
Tal como os mestres de Alquimia
Tentariam também fazer um dia
E esse sonho de ouro nunca morreu
Apesar de mil falhanços e reveses
Só mudando foi de nome como eu
De camisa vou mudando várias vezes
Podendo ser dinheiro o nome seu
Ou outros nomes mais, menos corteses
Que ser dinheiro ou ouro é indiferente
Que nunca o nome muda o mal da gente
Ataualpa o inca desgraçado
Que até ao pescoço apinhou ouro
Para ser depois decapitado
Também demonstra bem este desdouro
E este vil Sistema inficionado
Onde eu nasci convosco e me incorporo
Até que esta Ilusão apodrecida
A morte nos traga e leve a vida
Hoje que a máquina anulou
Do velho escravo a condição
E em novo escravo o transformou
O escravo de não ter escravidão
Porque o antigo escravo terminou
Como produtor sua missão
E com ele a pseudo-sociedade
Do ouro, do dinheiro e da verdade
A mentira se desfaz em mil pedaços
Por todo o território da Terra-mãe
Pendem do escravo os fúteis braços
Após tudo fazer quanto não tem
E alonga pelo nada os olhos baços
Num mundo que não é já de ninguém
Quem somos nós, que «engenho e arte»
Mostramos afinal té esta parte?
A Plutocracia vai ao leme
Da abstracção vazia do Valor
Mas Pluto menos crê já do que teme
Este Sistema cego e sem vigor
Já que o dito Valor oscila e treme
Sem os braços do seu progenitor
O Trabalho que foi senhor e rei
E morto, deixou morta a sua lei
Nesta sociedade escravizante
O Sistema do Valor, acua, emperra
E nada será mais decepcionante
Que maior pobreza, fome e guerra…
Sem nova visão socializante
E censo maior regrar a Terra
O rumo fetichista do dinheiro
Trazer-nos-á a morte bem primeiro
Coma Midas ouro, nós comeremos
O nosso dinheiro-deus, supremo e santo
Ou morremos à fome se o não temos…
Apodreçam as máquinas num canto
Para quê, afinal é que as fizemos
Se o trabalho nos é preciso tanto?
Gritem por trabalho noite e dia
Isso sim, é que é «Sabedoria»
Leonel Santos,
Lisboa, Janeiro 2012-01-10